quinta-feira, 19 de maio de 2016

Os judaizantes


"Os judaizantes" é um termo inventado por líderes irritados com a tentativa de alguns quererem introduzir nas igrejas cristãs algumas práticas "judaicas". Não é um termo bíblico e não deveria existir no nosso vocabulário evangélico. Trata-se portanto de extremos em colisão que usam vernáculos "não cristãos", ou diríamos "pouco ortodoxos", para desqualificar os outros. É uma forma mundana, arcaica, medieval para matar os diferentes, deixá-los incomodados ou para demonstrar uma certa "superioridade" doutrinária.

A palavra, entretanto, generalizou-se para carimbar todos os cristãos que nutrem alguma simpatia pela nação e Estado de Israel. Os "cristianizantes", chegam ao extremo de cobrar dos Judeus Messiânicos que adoptem práticas de culto ocidental, que não observem as Festas, que não guardem o Sábado e por aí fora. Faz lembrar os tempos de cristianização de outros povos e os brilhantes resultados que se conseguiram com esse comportamento.


Vamos então ver o episódio bíblico a que os "cristianizantes" tanto se agarram:

"Para a liberdade foi que Cristo nos libertou. Permanecei, pois, firmes e não vos submetais, de novo, a jugo de escravidão. Eu, Paulo, vos digo que, se vos deixardes circuncidar, Cristo de nada vos aproveitará. De novo, testifico a todo homem que se deixa circuncidar que está obrigado a guardar toda a lei. De Cristo vos desligastes, vós que procurais justificar-vos na lei; da graça decaístes. Porque nós, pelo Espírito, aguardamos a esperança da justiça que provém da fé. Porque, em Cristo Jesus, nem a circuncisão, nem a incircuncisão têm valor algum, mas a fé que atua pelo amor. Vós corríeis bem; quem vos impediu de continuardes a obedecer à verdade? Esta persuasão não vem daquele que vos chama. Um pouco de fermento leveda toda a massa. Confio de vós, no Senhor, que não alimentareis nenhum outro sentimento; mas aquele que vos perturba, seja ele quem for, sofrerá a condenação”.

Gálatas 5:1-10

Pessoalmente, acho que se este episódio e correção do erro não estivesse na Bíblia, isso não faria com que os cristãos gentios adoptassem a circuncisão como preceito doutrinário. E se isso acontecesse, seria completamente ruinoso para a igreja. 

As recomendações bíblicas no que diz respeito a comportamentos insensatos, para que não haja escândalos, são por si só suficientes para que essas práticas não se generalizem. Esta em particular, a circuncisão, destaca-se por ser uma marca de aliança entre o povo Hebreu e O seu Deus. 

Há, no entanto, muitas outras práticas na Bíblia, no Novo Testamento inclusive, que não são aplicadas nas igrejas de hoje, e essas estão completamente isentas de serem preferidas pois trata-se de actos isolados que aconteceram na vida dos Apóstolos, e com Jesus inclusive. Não se praticam porque episódios isolados não generalizam tais práticas e não fazem doutrina. 

Ainda, mesmo havendo igrejas que têm costumes que são o resultado de textos que só se encontram num único lugar nas escrituras, como por exemplo, o véu, e independentemente da interpretação que cada grupo denominacional dá a esse texto, não provoca concílios nacionais, guerras e pessoas em depressão na internet por esse motivo. 

E porquê? Independente se está certo ou errado essas questões não poem em causa o essencial: Cristo! A circuncisão faria uma diferença abismal pois além de ser rejeitada pelos gentios Cristo é que é o veículo da nossa Aliança e nenhuma outra prática sacrificial.

O que pode estar por detrás de tanta desarrumação mental? Hã...? Israel?

Bem, o texto não fala de festas, não fala de Sábado, não fala de Menorah, não fala de Kipá, não fala de excursões à Terra Sacro-Santa, não censura Paulo por ter ido à Festa de Pentecostes a Jerusalém, fala de... mas que ideia tola, o que estes Gálatas haviam de se lembrar: um acto cirúrgico!

Mas então a circuncisão não é um sinal de Aliança para o judeu? Como então então aqueles insensatos foram lembrar-se de anular o sacrifício de Cristo, pondo em causa tudo quanto foi construído pela Lei e pelos Profetas?

Quero salvaguardar que quem achar que, por ser judeu, por prática religiosa, cultural, ou higiene, entenda que o deve fazer, que o faça. Agora, que seja com o propósito de alcançar a salvação o texto é claro: ou Graça, ou Lei. Paulo foi tão severo que lhes mandou o recado que se querem a circuncisão então voltem tudo para trás, mas há mais para refletir no texto:
  • "de Cristo vos desligastes";
  • "procurais justificar-vos na Lei";
  • "da graça decaístes";
  • "desobedecestes à verdade";
  • "andam a ser enganados por outro";
  • "isso é pecado"...
Fica o aviso, que deve ser tomado como princípio, evidentemente, para que noutras áreas não cometamos erros idênticos. Mas ainda há mais um versículo que extrapola o rigor teológico do texto: é o último e que fala dos perturbadores. 

Face à minha experiência vivida enquanto ministro outrora envolvido com igrejas com uma sensibilidade especial para essas áreas bíblicas, não a circuncisão, ressalvo, preciso de concluir o seguinte: 

Enquanto eu não vir Cristo ser substituído por qualquer outra coisa, o que causa mais estrago à igreja, (que é de Cristo) é a poeira que os "cristianizantes" levantam para perturbar a paz dos outros, matando a possibilidade de estes existirem nas suas vidas. Eles tentam minar a diferença colocando rótulos "a torto e a direito" em tudo o que não se parece com o ritual adquirido. Isto também é falta de Graça.

Na falta de coerência entre o texto e o pretenso destinatário, e na falta de confirmação de que a cruz foi substituída por outros artefactos, aos exegetas recomendo que orem, e podem começar assim: "Graças te dou Ó Deus porque não sou como este judaizante..."

Então, e como vamos distinguir onde acaba o bem e começa o mal?

É verdade que algumas igrejas cometem alguns exageros ornamentais mas ainda não conheci nenhuma, entre os visados acusados, anular a cruz e a querer aplicar a circuncisão. Por acaso são outro tipo de paramentos ornamentais dos sumptuosos lugares de culto carregados de milhares de euros em tecnologia que estão em conformidade com a sã doutrina?


Talvez fosse sensato considerar a possibilidade de cuidarmos mais de nós mesmos, ser aquele sal e aquela luz que Jesus ensinou a todos que devemos ser. Isso sim, faz a diferença no judeu e no gentio.

Então e as "igrejas" que fazem como se vê na imagem que foi escolhida para ilustrar este artigo? Não desespere porque vai ficar pior. Na medida em que esta idolatria deixar de atrair pessoas ou não conseguir roubar crentes aos outros aquários, alguém irá inventar uma parvoíce ainda mais extravagante. A postura diz tudo e se a inspiração fosse judaica, eles não fariam isso. Repare que acusar alguns de "judaizantes", quando os símbolos do tabernáculo eram apenas ilustrações proféticas do Messias, não preveniu que loucuras maiores atingissem atingissem o planeta "evangélico".

Os sábios saberão distinguir o que significa o que é "a luz do mundo", o "templo", a "presença de Deus" de tudo quando é uma evidente e execrável idolatria. Quero relembrar que o termo "judaizante" não apareceu por causa do que se vê na imagem, é anterior a ela. Esta é uma degradação aberrante da inovação anterior e terá que ser qualificada com outro adjectivo.

Se se quer utilizar estes objectos que se faça por motivos ilustrativos não para provocar histeria no povo. Eu tenho um Menorah em casa, um quadro do Templo, um quadro do tabernáculo no deserto e outro de Jerusalém. Ah... já agora, tenho também um belo quadro em relevo da Santa Ceia! Mas nunca me curvei diante destes objectos. A adoração ao Deus verdadeiro não se representa, interioriza-se, é pessoal, não é feita para ser publicada em redes sociais para mostrar que frequentamos alguma esquina para sermos vistos por outros.


Incomoda-me mais os que estão mais dedicados a buscar títulos, bispados e os que correm atrás de outras apos-tolices. Incomoda-me que tanta profecia tenha tido tão pouco resultado. Incomoda-me tudo o que escraviza, que amarra, que priva a liberdade, a idolatria, a ignorância. Incomoda-me também que tanta excursão à Terra Santa não tenha nenhum impacto na Igreja em Israel. Incomoda-me que continue a haver duas igrejas separadas e um muro que ainda precisa de ser derrubado.

Depois de tantas orações suplicando misericórdia a Deus e perdão aos Judeus pelas atrocidades cometidas no passado contra o povo do livro, esperemos que agora eles nos perdoem também pela profanação dos objectos sagrados do Templo Judaico. Estas pessoas não são judaizantes, pois os judeus não praticam nada disto, são idólatras (é bíblico e legítimo chamar-lhes assim). São IDÓLATRAS e prejudicam ISRAEL pois dão uma imagem de um país repleto de fanáticos ou que quem vai lá regressa dessa forma. Há muitos líderes cristãos que podiam ir a Israel mas não vão e isso deve-se em grande parte a estas loucuras.

Se eu fosse o Apóstolo Paulo, a estes, hoje, escreveria assim:

Ó vós que estais com saudades de Roma e do Carnaval não desperdiceis o vosso dinheiro em objectos alegóricos nem vos curveis diante deles. Não tireis fotos ridículas para expor as vossas vergonhas nas redes sociais. Eu, vos digo que se vos deixardes enredar pela ostentação Cristo de nada vos valerá. Todos os que procuram o espetáculo estão também obrigados a obedecer a outros deuses. De Cristo perdestes o referencial para agora vos entreterdes com o que é fútil. Porque aquele que está em Cristo, nem o Templo, nem o seu ritual tem valor algum, mas a fé que atua pelo amor. Essa obsessão não vem de Deus nem dos Judeus. Confio que essas vossas tolices não tenham como objectivo a presunção de que sois melhores do que os outros. Um pouco de religião faz com que depressa estejais de novo integrados numa procissão e tudo aquilo que ocupa o lugar de Cristo no nosso coração faz com que de novo estejais em condenação.


Samuel Dias

2 comentários:

  1. Muito bom o artigo! Também tenho menorah e até gosto de celebrar as festas com o seu significado atual e profético... Não idolatro Israel, nem imponho aos outros as minhas opiniões... O principal é Cristo, o verdadeiro Yeshua, judeu que veio para o judeu e o não judeu! Respeito quem se circuncida, não por substituir a Cristo mas pelso seus motivos... Respeito os que reconhecem o único Messias, o único Filho de Deus (cuja morte e ressurreição foi para salvaçãod e todos), seja messiâncio, cristão, ou se queira chamar outra coisa. Para mim, o principal é se vem na Bíblia e como o aplico na minha vida. Não faço nada só porque judeus ou cristãos o fazem... Aliás, há coisas que os cristãos fazem que não vêm na Bíblia, essas também me reservo o direito de não as praticar... Parabéns pelo artigo!

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